Radiovaldo
Dormiam sem nenhuma distração, nem rádio ou televisão.
No fim da colheita o pai de Toninho comprou um rádio para alegrar as noites de cansaço e solidão.
-Mas que decepção!
Radiovaldo, rádio falador, não respeitava “seu”João.
Radiovaldo falava alto, pulava de estação em estação.
Não cantava música. Queria só para ele toda atenção.
E falava, falava sem prestar atenção, que quanto mais falava menos havia diversão.
E foi ficando calado de tanto ser falastrão.
Suas pilhas enfraqueceram, deixando Radiovaldo calado na solidão.
Pobre rádio falastrão.
As noites continuaram tristes, mas sem confusão.
Radiovaldo calado, agora só ouvia e prestava atenção.
E a família à noite ainda sentia solidão.
Foi quando Toninho, que conversava com ele toda noite, pediu a “seu”João quatro pilhas novinhas para colocar no radio falastrão.
“Seu”João relutou, mas concordou com a difícil situação.
E foi bem de noitinha, que Toninho tomou a decisão, colocou as quatro pilhas novinhas no rádio sem educação.
Quando começou a falar aprontou logo um barulhão. Falou bem alto!
Radiovaldo era mesmo um falastrão! Pulou de estação em estação.
Falou chinês e até alemão.
Todo mundo acordou para ver a confusão.
Radiovaldo teve tanto medo de ficar calado de novo, que pela primeira vez cantou a mais linda canção.
E assim noite adentro acabava uma e já começava outra canção.
Radiovaldo descobriu que tinha Toninho que para ele já se tornara um irmão.
E assim durante toda noite cantando sozinho, não sentia solidão.
Olhou para toda a família dormindo, falou boa noite baixinho e pediu perdão, de agora em diante chega de confusão.
Bernardo Bam
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