quarta-feira, 14 de setembro de 2011

Radiovaldo

Na casa lá na roça não tinha luz, e durante o dia era muito trabalho e à noite só cansaço.

Dormiam sem nenhuma distração, nem rádio ou televisão.

No fim da colheita o pai de Toninho comprou um rádio para alegrar as noites de cansaço e solidão.

-Mas que decepção!

Radiovaldo, rádio falador, não respeitava “seu”João.

Radiovaldo falava alto, pulava de estação em estação.

Não cantava música. Queria só para ele toda atenção.

E falava, falava sem prestar atenção, que quanto mais falava menos havia diversão.

E foi ficando calado de tanto ser falastrão.

Suas pilhas enfraqueceram, deixando Radiovaldo calado na solidão.

Pobre rádio falastrão.

As noites continuaram tristes, mas sem confusão.

Radiovaldo calado, agora só ouvia e prestava atenção.

E a família à noite ainda sentia solidão.

Foi quando Toninho, que conversava com ele toda noite, pediu a “seu”João quatro pilhas novinhas para colocar no radio falastrão.

“Seu”João relutou, mas concordou com a difícil situação.

E foi bem de noitinha, que Toninho tomou a decisão, colocou as quatro pilhas novinhas no rádio sem educação.

Quando começou a falar aprontou logo um barulhão. Falou bem alto!

Radiovaldo era mesmo um falastrão! Pulou de estação em estação.

Falou chinês e até alemão.

Todo mundo acordou para ver a confusão.

Radiovaldo teve tanto medo de ficar calado de novo, que pela primeira vez cantou a mais linda canção.

E assim noite adentro acabava uma e já começava outra canção.

Radiovaldo descobriu que tinha Toninho que para ele já se tornara um irmão.

E assim durante toda noite cantando sozinho, não sentia solidão.

Olhou para toda a família dormindo, falou boa noite baixinho e pediu perdão, de agora em diante chega de confusão.

Bernardo Bam

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